Novembro 16, 2007
Shyznogud
Na crónica que hoje escreve no DN *(já está também no cinco dias), Fernanda Câncio refere outra, de entre as muitas, bizarrice de que padece o Código Deontológico dos Médico, para além da "falha deontológica grave" em que incorrem os médicos que pratiquem uma IVG. Por motivos evidentes apetece-se recuperar um dos textos que escrevi, em Janeiro, no Sim no Referendo.
Sovkhoz uterino
O útero é nosso!", este deveria ser o texto inscrito em muitas faixas de algumas campanhas que por aí andam. Depois de tantas, e tão variadas, alusões às teorias natalistas como justificação para a não despenalização do aborto começo a ter delírios justificados. Portugal transformado numa espécie de grande quinta produtora de carne, cheia de fêmeas reprodutoras. Fica só a faltar uma regulamentação das características do macho cobridor (que isto de ser macho cobridor, a julgar pelo exemplo taurino, não é para todos).
A minha convicção profunda de que existe uma efectiva colectivização uterina é reforçada quando leio o muito debatido Código Deontológico dos Médicos. Tenho liberdade para alterar o meu nariz, a minha boca, as minhas mamas... quando a coisa começa a tocar no útero, e regiões adjacentes, aí já o caso muda de figura e deixo de ser senhora para decidir. O artigo 54º do referido código proíbe aos médicos a prática da laqueação de trompas quando não praticada por justificação terapêutica grave. Sabe tão bem apanhar com estes atestados de menoridade intelectual em domínios tão íntimos, tão pessoais, como a minha própria reprodução.
A sexualidade feminina afastada da procriação é assim tão assustadora? Parece que sim.
* especial atenção merece este excerto "(...)o mais extraordinário é que esta disposição tão, digamos, especial é ignorada, por exemplo, pelo presidente do Colégio de Obstetrícia e Ginecologia da Ordem dos Médicos. "Confesso que não sabia que isso lá estava", diz Luís Graça, que certifica ter já feito "centenas de laqueações de trompas". ".
Para concluir, apetece-me transcrever para aqui o que Medeiros Ferreira escreveu no Bicho Carpinteiro, descrevendo a "Ordem dos Médicos hoje", "Sobeja deontologia e faltam médicos em Portugal.Venham daí...". Como complemento desta afirmação deverão passar os olhos no post de Vital Moreira de ontem sobre médicos espanhóis a trabalhar em Portugal.