Junho 06, 2008
Cenas Obscenas
Foi há dois anos, pouco depois da inauguração deste blog e em igual maré eufórica, que fiz aqui a sugestão de alterar a bandeira portuguesa. Que, evidentemente, renovo. Nessa altura, o país vivia em crise e o futebol, mais precisamente a participação portuguesa no Mundial, era a panaceia para todas as maleitas da nação. Talvez não fosse. Talvez se tratasse apenas de um analgésico para as dores, uma espécie de Carnaval em que se festeja e se esquecem as agruras. O vento mudou e ela não voltou, perdão, a festa acabou e ela, a crise, voltou, sim, como "voltam", regular e dolorosamente, por exemplo, as prestações do crédito que fazemos para ir de férias para as Caraíbas.
Hoje, passados dois anos, não se sabe ainda bem se a crise é a mesma de 2006 ou se já é outra, mas a receita é a mesma. No bigode de Scolari e no corte eriçado de Cristiano Ronaldo repousam as esperanças redendoras de toda uma nação. Já me preparei para o desfile de automóveis de bandeirinhas verde-rubras ao vento, para as inevitáveis reportagens televisivas sobre os pequenos-almoços da Selecção e os intermináveis directos do cantão suíço. Hoje a emissão matinal da Antena 1 é transmitida de lá, como se de uma cimeira de Ialta se tratasse.
Não sei porquê, fiquei a pensar no que a propósito diz Carlos Fiolhais no Público de hoje: "Somos bons com os pés, mas não o somos suficientemente com a cabeça. Porque é que não fazemos o mesmo esforço para entrar no top ten da educação que fazemos do futebol?".